A Indonésia anunciou que o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, que foi   condenado à morte no país em 2004 por tráfico de cocaína, será morto por   fuzilamento, de acordo com o jornal local Jakarta Post. A execução deverá ser no   começo de julho.
  
Marco   Archer Cardoso Moreira, o brasileiro condenado à morte em Jacarta (Foto:   Reuters)
  Em entrevista à publicação no último dia 20, o procurador Andi DJ Konggoasa   anunciou que as execuções de três imigrantes condenados, entre elas a do   brasileiro, acontecerão no começo de julho deste ano.
  De acordo com a publicação, os três prisioneiros escolheram seus pedido   finais: Marco quis uma garrafa de uísque.
  Outro brasileiro
  Além de Archer, outro brasileiro também está preso por tráfico de drogas na   Indonésia. O surfista Rodrigo Gularte, 39, foi detido em 2004 portando 6 kg de   cocaína e condenado à morte no país no ano seguinte.
  Ele e Archer são os únicos brasileiros condenados à execução no mundo.
  Gularte, que levava a droga em uma prancha de surf, perdeu todos os recursos   possíveis na Justiça – o último, em 2011- e sua única chance de evitar ser   fuzilado é obter o perdão do presidente indonésio.
  NA BALADA DA MORTE
  Em 2005, o enviado especial do  Jornal JÁ, Renan Antunes de Oliveira,   esteve em Jacarta e mandou a seguinte matéria sobre o brasileiro condenado à   morte:
  
Rodrigo   Muxfeldt Gularte, outro brasileiro condenado por tráfico na Indonésia (Foto:   AP)
  Ainda não caiu a ficha do paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte, 32 anos, nem a   do carioca Marco Archer Cardoso Moreira, 43, os dois brasileiros condenados à   morte na Indonésia por tráfico de cocaína. No dia 17 de fevereiro de 2005, Marco   perdeu o último apelo à Suprema Corte, dependendo agora de um improvável perdão   presidencial para ser beneficiado com prisão perpétua. O presidente Lula pediu   ao seu colega indonésio clemência em favor do condenado.
  Durante quatro dias de entrevistas na cadeia de Tangerang, eles deram muitas   gargalhadas relembrando suas aventuras. Os dois não estavam nem aí para a   possibilidade de enfrentar o Criador, via pelotão de fuzilamento, ou passar o   resto de suas vidas presos nos cafundós da Ásia. Se sentem como se tudo fosse   apenas uma bad trip.
  Eles confessaram ser traficantes tarimbados. E demonstraram, sim, algum   arrependimento, mas só por ter embalado mal a droga que levavam em seus   equipamentos esportivos, permitindo a descoberta pela polícia. Ela pegou Rodrigo   com seis quilos escondidos em suas pranchas de surf, em 2004. E Marco com 15 na   sua asa delta, em 2003.
  Os dois homens que hoje dividem a mesma cadeia chegaram lá por trajetórias   diferentes no mundo das drogas. Rodrigo foi mais usuário do que traficante,   começou cheirando solvente aos 13 anos. Marco entrou no tráfico aos 17, já no   topo da pirâmide, diretamente com os cartéis colombianos. Ambos fizeram várias   viagens bem-sucedidas para muitos países, antes de se danarem no aeroporto da   capital Jacarta, portão de entrada para se chegar na ilha de Bali, o paraíso dos   pirados.
  Os dois faziam parte de gangues diferentes. Na cadeia, formaram um laço   instantâneo. Ficaram amigos ao ponto de dividir prato e colher. Suas afinidades:   não terminaram os estudos, jamais trabalharam, sempre foram sustentados por   outros, exploraram as famílias, viveram só pras baladas.
  Proteção materna
  As mães deles – mulheres sofridas, esperançosas e guerreiras – estão em   campanha pela liberdade dos "garotos", como elas e parte da imprensa tratam os   dois barbados. Depois de gastarem os tubos com eles, estão raspando os cofres   para resgatá-los. Na falta de uma boa causa além do incondicional amor de mãe,   usam a bandeira do repúdio à pena de morte, de forte apelo na fatia esclarecida   da humanidade.
  Dona Clarisse, de Rodrigo, mobiliza o Itamaraty para proteger o seu. Dona   Carolina, de Marco, obteve da Câmara de Deputados o envio de um apelo de   clemência ao parlamento indonésio. A proposta, do deputado Fernando Gabeira, foi   aprovada em plenário com apenas um voto contra, do deputado Jair Bolsonaro, um   ex-militar linha-dura que há décadas luta pela adoção da pena de morte no   Brasil.
  Os diplomatas brasileiros em Jacarta trabalham nos bastidores para reverter   as sentenças. Estão confiantes que vai dar certo. Notam a moleza do sistema   porque só um traficante foi executado até hoje, dos 30 condenados sob as duras   leis antidrogas indonésias de 2000. Era um indiano pobretão.
  Pela expectativa otimista deles será possível reduzir a pena de Rodrigo para   prisão perpétua, em segunda instância, negociando em dinheiro uma redução maior   ainda na terceira, para 20 anos, com soltura em sete, talvez 10 – é sabido que o   Judiciário indonésio adota uma regra não escrita de trocar tempo de   encarceramento por uma pena pecuniária.
  Eles admitem que no caso de Marco, já sentenciado em última instância, vai   ser mais difícil. Será preciso om perdão presidencial apenas para reduzir de   pena de morte para prisão perpétua, e depois negociar a saída. É que ele se   tornou uma causa célebre porque fugiu do aeroporto quando foi descoberto com a   droga, protagonizando uma caçada policial acompanhada em rede nacional de   tevê.
  Os custos para dar jeitinho nas sentenças e as despesas para manter os dois   em celas cinco estrelas podem chegar a quase 200 mil dólares por cabeça. Dona   Clarisse tem até mais para salvar Rodrigo; dona Carolina anda passando o chapéu.   O desenrosco deve ser demorado: na melhor das hipóteses seus garotos voltariam   pra casa entrados em anos, um quarentão, outro cinquentão.
  Agora o quadro sinistro: o fuzilamento do indiano pobretão, ocorrido em   fevereiro, sinaliza uma mudança perigosa para os sonhos de liberdade dos   brasileiros – a de que só dinheiro já não adianta mais.
  É que a execução saiu por insistência do general durão, chefe da agência   antidrogas deles. O homem está ''hukuman berta bagi pembana narkotik''. É isso   mesmo: punindo severamente o narcotráfico.
General durão Togar Sianipar,   chefe da agência antidrogas da Indonésia: prometeu acabar com as drogas no país   até 2015
  
General   durão Togar Sianipar, chefe da agência antidrogas da Indonésia: prometeu acabar   com as drogas no país até 2015
  Togar prometeu livrar a Indonésia das drogas até 2015, combatendo também a   corrupção do sistema judicial – fechando o balcão de negócios a diplomatas e   criminosos. Togar foi quem mandou pintar aquele aviso do hukuman em letras   garrafais no aeroporto de Jacarta. Seu plano é simples e brutal: fuzilar os   traficantes que pisarem no país.
  "Morte aos cristãos"
  O povão muçulmano o apoia. No tribunal, durante o primeiro julgamento de   Rodrigo, em fevereiro, a plateia pedia ''morte aos traficantes ocidentais   cristãos'', descrição na qual se encaixam os dois brasucas. O pedido da massa   deixa o governo firme para rejeitar as campanhas internacionais por direitos   humanos, livre de dúvidas existenciais sobre a pena de morte.
  O modelo prende e mata já deu certo na política, em 1965, quando o país se   dividia entre esquerda e direita. Em quatro meses, o presidente-general Suharto   implantou o capitalismo fuzilando quase um milhão de comunistas.
  Esta tradição não parece assustar os brasileiros sentenciados ao fuzilamento.   Nos momentos de maior delírio eles já se enxergam, Marco em Ipanema e Rodrigo   nas praias de Floripa, contando aos amigos como se livraram da fria.
  Rodrigo sonha que políticos influentes amigos da mãe vão pressionar Lula para   que ele interceda oficialmente a seu favor, pedindo clemência ao presidente   indonésio. Marco anda tão avoado que até já encomendou de Casemiro, um amigo no   Rio, o último modelo de asa-delta.
  Paradoxalmente, a prisão é o momento de glória de suas vidas: "Somos os   únicos entre 180 milhões de brasileiros", diz Rodrigo, deslumbrado com a   notoriedade obtida com o narcotráfico – cujo pico de audiência é entre jovens   ricos praticantes de esportes radicais.
  Eles acreditam nas chances de transformar o limão numa limonada. Estão com   tudo pronto para botar um diário na internet. Planejam contratar videomakers   para acompanhar seus dias. Negociam exclusividade na cobertura jornalística,   começaram a escrever livros com a experiência.
  Uma benção para os planos de libertação foi o tsunami que arrasou uma zona   pobre da Indonésia: familiares e diplomatas contabilizam cada avião brasileiro   de ajuda humanitária como um ponto para a futura negociação. O Itamaraty espera   que os indonésios considerem isso na hora de analisar o pedido de clemência   feito por Lula.
  Mordomia na prisão
  Enquanto esperam, os dois compram privilégios para viver como marajás na   cadeia – ambos estão com o cordão umbilical ligado nas contas bancárias das   mães: "Aqui é como numa pousada, muito legal, só que jogaram a chave fora", diz   Rodrigo, satisfeito, mesmo sendo acostumado ao conforto de sua suíte com sauna,   na casa da família, em Curitiba. Marco também não resmunga, mas sente saudades   dos apês na Holanda, EUA e Bali.
  Enquanto os 1300 presos muçulmanos estão amontoados em 10 por jaula, cada um   dos brasileiros tem sua cela. E elas estão equipadas com TV, ventilador,   geladeira, forno elétrico, som pauleira. No jardim privativo criam pássaros,   podam bonsais, alimentam os peixes do laguinho, cuidam da gata Tigrinha.
  
Rodrigo   e Tigrinha: mordomia de uma pousada, mas que jogaram a chave fora (Foto: Renan   Antunes de Oliveira)
  O serviço é excelente: presos pobres fazem a faxina, lavam as roupas deles,   são garçons nas festas, cabeleireiros, pedicures. Os dois podem receber gente   sem formalidades, todos os dias. Rodrigo já foi visitado pela família, pela   namorada, a empresária carioca Adriana Andrade, e pelo parceirão Dimitri "Dimi"   Papageorgiou.
  Dimi é outro garotão com mais de 30, carioca de pais gregos, acusado de ser   líder da quadrilha contratante do malfadado transporte das pranchas recheadas de   coca. Apareceu na cadeia para ver seu mula Rodrigo, deu 2 milhões de rúpias para   ele se virar, dinheirama que vale só 500 pilas. Mas agora Dimi não vai mais   poder ajudar: ele foi preso, em fevereiro, pela Polícia Federal, no Brasil –   aquelas rúpias dadas a Rodrigo poderão lhe fazer falta.
  Marco recebeu a visita de amigos de Bali e de uma senhorita conhecida apenas   como 'Dragão de Komodo', sua namorada indonésia. A moça também é sentenciada,   está na área feminina da prisão. Dona Carolina já esteve com ele duas vezes, a   última no niver, em outubro, quando deu uma festinha com brigadeiros e refris –   depois, tirou uma soneca na cela do filho.
  Dona 'Carola' é funcionária pública aposentada, superdescolada. Conquistou a   simpatia dos carcereiros de Marco com seu 'show do milhão'. Foi assim: cansada   do assédio deles por dinheiro para cigarros, ela trocou 1 milhão de rúpias em   notas de 10 mil (quase R$2,50) e saiu pelo pátio jogando as cédulas para o alto.   Guardas e presos lutaram para recolher a mixaria.
  Mais showtime na cadeia: os dois recebem suas visitas íntimas no sofá da sala   do comandante. De vez em quando pinta um ecstasy. E nas noites quentes rola até   um chopinho gelado, cortesia de um chefão local, preso no mesmo pavilhão. Lá, a   balada não para nunca.
  A comida é tudo de bom. Marco tem curso de chef na Suíça, dá show na cozinha.   Na semana passada seu cardápio incluía salmão, arroz à piemontesa, leite   achocolatado com castanhas para sobremesa. O fornecedor dos alimentos é Dênis,   um ex-preso tornado amigão. Ele pega a lista por celular e traz tudo fresco do   Hypermart.
  
Marco,   e a comida "tudo de bom" (Foto: Renan Antunes de Oliveira)
  Quando o amigão está ocupado e a geladeira vazia, Marco chama a cobrar a mãe   no Rio, que liga pra mãe de Rodrigo em Curitiba, que aciona a Embaixada, que   despacha um chofer pra garantir o fome zero da dupla.
  Como Tangerang é uma prisão provisória, nos arredores de Jacarta, Rodrigo e   Marco estão como naquela piada da hora do recreio no inferno. O secretário do   diabo pode anunciar o fim dos privilégios a qualquer momento. Pior do que o fogo   será a transferência deles para o Carandiruzão de uma remota ilha no Sul, onde   serão misturados com 10 mil presos muçulmanos: aí será bom começarem a rezar   para Alá.
  Sempre otimistas, já têm planos para tentar se refazer lá embaixo. Rodrigo   bola um jeito de demonstrar sua habilidade em pesca submarina, para presentear   peixes ao comandante da nova cadeia e conquistar sua amizade.
  
Tangerang,   prisão provisória, nos arredores de Jacarta (Foto: friendsofindonesia.org)
  Difícil saber como é que lhe ocorreu uma ideia destas. Mas é fazendo planos   absurdos como esse que eles passam os dias. As baladas da cadeia, o papo   encorajador das famílias, o apoio dos diplomatas e a expectativa de que suas   ações possam ficar impunes dão um tom surrealista pra todas conversas deles.
  Num papo, Rodrigo revela sua crescente admiração pelo companheiro, já o acha   até injustiçado. "Marco teve uma vida que merece ser filmada", exalta, contando   ter oferecido um roteiro sobre o amigo à cineasta curitibana Laurinha Dalcanale.   "Ele fez coisas extraordinárias, incríveis."
  O repórter pede um exemplo de tal obra. "Ué, viajou pelo mundo todo, teve um   monte de mulheres, foi nos lugares mais finos, comeu nos melhores restaurantes,   tudo só no glamour, nunca usou uma arma, o cara é demais."
  Menos, Rodrigo, menos.
  Ele pára alguns segundos, reflete um pouco. Sai devagar do deslumbramento com   as vantagens do narcotráfico sobre um emprego comum. Muda o tom e pede ajuda:   "Por favor, brother, quando você for escrever, dê uma força, passe uma imagem   positiva nossa, pra ajudar na campanha".
  Então diga lá o que você vai fazer quando for solto: "Bota aí que eu quero   trabalhar 10 anos pro governo dando palestras pra crianças sobre a roubada que é   o tráfico".
  Ele diz e saboreia o efeito das palavras. Traga seu Marlboro, acaricia   Tigrinha. Parece sério, joga a fumaça pra cima. Quando solta tudo, o corpo já   está se chacoalhando. É que ele não conseguiu conter o riso.
  "Vou sair dessa"
  Seu último desejo: voar mais uma vez em São Conrado
  Marco Archer já esperava ter a pena de morte confirmada no Supremo Tribunal   indonésio, como ocorreu. Sua única esperança agora é um apelo do Itamaraty ao   presidente indonésio por clemência. Isto lhe pouparia a vida, mas o deixaria   para sempre na cadeia. A execução ainda pode demorar cinco anos.
  Quem é Marco? Um carioca, com o apelido chinfrim de Curumim. Ele cresceu   classe média na Ipanema dos ricos. Queria ser um deles. Em 80, aos 17 anos, foi   à Colômbia disputar um campeonato de asa delta. Voltou campeão, mas mordido pela   mosca azul do narcotráfico: sacou como ganhar dinheiro fácil.
  "Alguém no hotel me deu uma caixa de fósforos com cocaína. Depois da primeira   viagem, nunca fiz outra coisa na vida, tenho mais de mil gols", exagera.
  Ele conta que serviu de mula no Hawai, Nova York, Europa toda. "Fazia viagens   rentáveis, ficava meses sem trabalhar."
  Na cadeia, Marco passa horas olhando fotos amassadas que guarda numa imunda   pasta preta. São recuerdos de suas viagens, de belas mulheres, de carrões e   barcos: "Não posso me queixar da vida que levei".
  Orgulha-se: "Nunca declarei imposto de renda, nem tive talão de cheque, não   servi ao Exército. Só votei uma vez na vida. Foi no Collor, amigo da   família".
  Com o dinheiro do tráfico, Curumim manteve apartamentos em três continentes,   abertos pra patota da asa delta, do surf, da vida boa: "Nunca perguntaram de   onde vinha meu dinheiro".
  Marco conta que saiu do Brasil para morar em Bali há 15 anos, "cansado de ver   meu irmão (Sérgio) bater na minha mãe para obter dela dinheiro pras drogas". O   irmão morreu de overdose em 2000, mas a estas todas ele tinha tido seu   infortúnio: em 1997 caiu da asa, sofreu várias fraturas.
  Dali pra frente sua atividade de mula de drogas diminuiu, as contas de   hospitais cresceram. Ficou quase dois anos sem andar, até conseguir se   recuperar. Hoje anda com dificuldades, com as pernas cheias de pinos de   metal.
  Pra decolar outra vez na vida boa ele preparou aquele que seria seu último   golpe, faturar 3 milhões e 500 mil dólares inundando Bali com cocaína.
  Foi ao Peru, pegou 15 quilos com um fornecedor, por uma bagatela, cerca de 8   mil dólares o quilo (dinheiro que ele obteve com um chefão americano, com quem   dividiria os lucros da operação).
  Marco meteu a droga nos tubos de sua asa delta. Saiu de Iquitos, no Peru,   para Manaus, pelos rios da Amazônia. "Eu me misturei com turistas americanos e   nunca fui revistado", gaba-se. De lá embarcou para Jacarta: "Tava tudo pronto   pra ser a viagem da minha vida".
  No desembarque, mete o equipamento no raio x. A asa de Marco tinha cinco   tubos, três de alumínio e dois de carbono. Este é mais rijo e impermeável aos   raios: "Meu mundo caiu por causa de um guardinha desgraçado".
  Como foi: "O cara perguntou porque a foto do tubo saía preta. Eu respondi que   era da natureza do carbono. Aí ele puxou um canivete, bateu no alumínio, fez tim   tim, bateu no carbono, fez tom tom".
  O som revelou que o tubo estava carregado. Foi o fim de uma bem-sucedida   carreira de 25 anos no narcotráfico.
  Marco ainda conseguiu dar um desdobre nos guardas. Enquanto buscavam as   ferramentas, ele se esgueirou para fora do aeroporto, pegou um prosaico táxi e   sumiu – ajudado pelo fato de falar fluentemente a língua bahasa.
  Estava com tudo pronto para escapar no iate de um amigo milionário, mas aí   azar pouco é bobagem. Um passaporte frio que ele tinha foi queimado por um   cúmplice que também fugia da polícia.
  Depois de 15 dias pulando de ilha em ilha no arquipélago indonésio – estava   tentando chegar ao Timor do Leste –, passou sua última noite em liberdade num   barraco de pescador, em Lombok.
  Acordou cercado por um esquadrão policial, armas apontadas. Suplicou em   bahasa, tiveram misericórdia dele.
  Na cadeia esperando a execução, procura levar seus dias na malandragem   carioca, na maior paz com os carcereiros, sempre fazendo piadas, cozinhando-lhes   pratos especiais.
  Acabou pro Curumim? "Vou fazer tudo para continuar vivo e sair dessa".
  Nas drogas desde os treze
  Rodrigo nasceu em Foz do Iguaçu. É neto de latifundiário produtor de soja,   filho de mãe milionária, dona Clarisse. O pai é um médico gaúcho de Santana do   Livramento, Rubens Borges Gularte.
  Aos 13, já em Curitiba, Rodrigo começa nas drogas, cheirando solventes. "Era   um garoto maravilhoso, a alegria da família, nunca levantou a voz", isso é tudo   o que a mãe lembra dele naquela época.
  Com 18 é preso fumando baseado no parque Barigui. O pai queria deixar que ele   fosse processado. A mãe não concorda, suborna um delegado com mil dólares pra   soltar o garoto: "Se fossem prender todos que fumam", justificou dona   Clarisse.
  O garoto ganha seu primeiro carro. Bota amigos dentro e sai pela América   Latina como um Che Guevara mauricinho, bebendo e se drogando. "Fiz cada   loucura", lembra.
  Aos 20 Rodrigo era um rapaz de 1,84m, magrão, modos educados, cheio de   namoradas. Teve um breve romance com a professora catarinense Maria do Rocio, 13   anos mais velha, fazendo Jimmy, hoje com 12, autista. Raramente via o filho: "Eu   não estava preparado para a paternidade", admite.
  Rodrigo passa a viajar muito e pira total: "Em Marrocos, fumei o melhor   haxixe". No Peru: "Coca da pura". Na Holanda: "Ecstasy de primeira".
  Aos 24, sai bêbado e drogado de uma festa. Bate o carro num táxi, tenta   fugir, bate noutro, abandona tudo e corre pra casa da mãe. Ela dá uma volta na   polícia, chama um médico, interna o garoto.
  Na ficha de internação, o médico João Carlos anota: "Mostrou onipotência,   estava depressivo".
  Nos anos seguintes a mãe fez de tudo para ele dar certo. Abre para Rodrigo   uma creperia, em Curitiba. Não deu. Uma casa de massas, em Floripa. Não deu.   Mandou pra fazenda. Não deu. Rodrigo vai estudar no Paraguai. Não deu. Ele se   matricula na UFSC. Não deu.
  Rodrigo começa no tráfico: "Fiz várias viagens à Europa só para trazer   skunk", confessa.
  "Se ele fazia isso, não sei onde metia o dinheiro, porque nunca tinha um   tostão", rebate a mãe.
  A prisão: "Os carinhas me deram as pranchas com cocaína dentro. Embarquei em   Curitiba, onde o raio x é ruim, pra desembarcar em Jacarta".
  O narco também não deu certo.
  Agora ele se lamenta: "Só depois soube que os japoneses doaram um raio x   potente pros indonésios, eles pegaram a droga".
  Rodrigo filosofa: "Meu erro foi a coca. O skunk é energia positiva, o ecstasy   dá um barato legal, mas a cocaína é do mal".
  Um desabafo: "Se a parada tivesse dado certo eu estaria surfando em Bali,   cercado de mulheres".
  Seu futuro: esperar as negociações do Itamaraty e tentar reduzir a pena em   segunda instância.
  Uma novidade: ele está namorando firme. Com uma menina indonésia, caixa de um   supermercado, prima de um condenado. Ela entrou para visitar o parente, os dois   se pegaram no olhar. Ele foi no primo, soltou um plá, consegui atrair a   menina.
  
Dragão   de Komodo: uns amassos na sala do comandante (Foto: Renan Antunes de   Oliveira)
  Ela vem uma vez por semana, Rodrigo dá uns amassos nela, na sala do   comandante.
  27/06/2012 - às 20:00 - Política & Cia
Brasileiro condenado   à morte na Indonésia por tráfico de drogas será executado agora em   julho
(Publicado no Jornal Já, em 22 de junho de 2012, por Elmar Bones)
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/brasileiro-condenado-a-pena-de-morte-por-trafico-de-drogas-sera-executado-em-julho/
  
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