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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

FALAR OU PROVAR O VENENO DA INCOMPREENSÃO

CONSULTÓRIO POÉTICO

FALAR OU PROVAR O VENENO DA INCOMPREENSÃO

Fabrício Carpinejar

Fabrício!

Hesito desde o instante em que recortei e colei o teu endereço de
e-mail.Tive dúvidas ao escolher que endereço eletrônico usar. Senti
receio. E, confesso, julguei a vontade de te escrever agora um tanto
ridícula. Sei lá.O que ele pode me dizer que os meus amigos todos já não
tenham dito, pensei. E tuas linhas me responderam. Tua poesia. A poesia
comunica um outro tipo de sensibilidade. Dirá a canção que os poetas
como os cegos podem ver na escuridão., nisto me fio, confio. E aposto!

Vou te contar minha história!

Convivi com Pedro durante uns três anos ou pouco mais que isto,
cotidianamente, sem saber o seu nome. Cumprimentava-o. Estabelecíamos
longas conversas de corredor. Tínhamos amigos em comum, mas não éramos
próximos. E, embora eu o achasse simpático, nunca consegui gravar seu
nome. Nossos compromissos e rotinas mudaram e passei a encontrá-lo
raramente. Encontrei-o algumas vezes, por acaso, nas ruas, n'algum
evento cultural ou no campus universitário. Constrangida, disfarçava
para que não se desse conta de que eu não sabia o nome dele. Numa dessas
ocasiões, ele propôs trocarmos os números de telefones. Que nome
registrar na agenda! Não quis perguntar.

Não nos víamos há um bom tempo, quando por conta do orkut, eu descobri o
seu nome (e me dei conta de que ele estava entre os contatos do MSN e em
todas as minhas listas de e-mail. (rs). Por conta de um interesse comum,
entrei em contato on line para avisá-lo de um evento que aconteceria no
mês seguinte. Desde então passamos a nos comunicar freqüentemente pela
internet. Eu, no entanto, não tinha interesse nele. Estava envolvida em
outras histórias. ademais, eu sempre pensara nele como um rapaz sério
que tinha um namoro fixo já longo (que eu não sabia, havia acabado). Ele
também não demonstrava estar flertando.

Ao aproximar-se o evento, marcamos de nos encontrar para comprar
ingressos e conversar um pouco sem o intermédio da tela de um
computador. O primeiro encontro foi marcado e seguiram inúmeras
coincidências. Foi, então, que comecei a me sentir envolvida e atraída
por ele e percebia (de modo claro) que era recíproco. No entanto, não
obstante as deixas e sugestões mútuas (pessoalmente, na internet ou por
telefone), ninguém explicitou intenção alguma. O nosso primeiro beijo
aconteceu em um dos inúmeros encontros acidentais e foi um beijo
intenso, longo e absolutamente nos desligamos da situação estávamos de
pé, em um ponto de ônibus, numa avenida movimentada, mas paralisamos o
tempo, ali.

Nosso começo trazia uma intensidade e um desejo que eu não havia
experimentado. Ele era intenso, delicado, envolvia-me com sua
sensibilidade escancarada e inteligência. Vivemos dias muito bons. Sei
que era bom para ele também. Não era apenas pele. Não era apenas tesão.
Apesar da intensidade do contato físico, havia muito sentimento
explicitado (ou flagrado) nos gestos.

Quando nos afastamos, após um mês e sem explicações nem conversa de the
end, fiquei tentando me convencer de que ele seria o maior mentiroso do
mundo por criar situações românticas. Se o objetivo dele (após o fim,
era assim que me parecia) era um caso passageiro porque trazer tantas
palavras, tantos gestos, belíssimos para aqueles instantes

Amigos que nos viam juntos diziam perceber uma sintonia muito grande.
Sabe aquela definição (externa) de casal bonito Parecíamos formar um.
Perplexos, os meus amigos não sabiam me conformar. Ainda não sabem.
Todos e todas têm se empenhado em me fazer sair com outras pessoas. E,
assim, tenho procedido. Não fico só. Não dispenso convites pra sair. Mas
não me faz bem. Não me sinto bem (nem do ponto de vista do desejo) com
os outros. As coisas têm acontecido. Tenho seguido minha rotina. Mas
estou engasgada com um fim não pronunciado. Inconformada com um
interdito para não seguir vivendo um amor bonito e profundo.

Permanecemos amigos (bem mais do que antes). Fazemos algumas coisas
juntos, profissionalmente ou pra nos divertir. No entanto, me dói (quase
como dor física) não poder tocá-lo como desejaria. E o pior é que, às
vezes, fica a impressão de que ele quer que eu retome os rumos das
coisas. Hoje (ontem), ele se confessou bastante triste. Disse que estava
em crise. Eu dei minha opinião sobre algumas coisas dos campos
profissional e acadêmico que, para mim, refletem um certo estado
emocional dele. Ele calou. Perguntei se ele se incomodava que estivesse
analisando sua situação e ele me disse que eu tinha o direito de dizer o
que entendesse e que ele ouviria. Retomamos, há bem pouco tempo, uma
maneira mais carinhosa de nos tratarmos ao telefone, nos e-mail's, no
MSN, pessoalmente. Mas o contato físico virou tabu. Embora, às vezes, eu
suspeito que chegar mais perto, e o mais simples toque, o desestabilizam
tanto quanto a mim.

Ele (sabemos todos os que somos seus amigos) se feriu muito no
relacionamento anterior. Quando eu falei em estabilizar a relação,
inclusive, ele disse que não estava pronto ainda.

Por ele ser, de fato, um homem bastante sensível, duvido que tenha sido
um caso temporário para ele. Duvido que ele tenha apenas me usado. Mas
algo estancou o que ele sentia. Eu, no entanto, não encontro caminhos
para tentar voltar e nem consigo arrancar dele uma só palavra definitiva
me dizendo que não temos mais chance.

Some-se a todo este processo descrito (exaustivamente), o fato de que
todas as pessoas (amigos ou não) ainda hoje, ao nos ver juntos, mesmo
sem carinhos, identificam-nos como casal. Construímos rapidamente uma
intimidade que não desfizemos depois que paramos de ficar (estávamos
ficando !rs).
Sinceramente... boba ou não, eu ainda acredito em tentar reconquistá-lo.

Fala, poeta! Um grande abraço em você, Fabrício!
Beijos
Silvana

Querida Silvana

Entendo seu sofrimento. Mas não entendi a separação, pois não houve fim.
Não houve briga, quebradeira, juízo final, o que faz parte da negociação
do desejo. O que identifico é a conformação pelo silêncio.

Temos uma mania de resolver a história por nossa conta. Concluímos e
esquecemos de perguntar o que o outro está querendo. De sua alquimia com
o colega, flagrantes são suas impressões. Não tem nada mais do que
impressões.

Ao definir Sei que era bom também para ele. Sabe como Ele afirmou
Tememos falar durante o amor para não cobrar, só que deixamos de falar e
permanecemos cobrando. Cobra agora uma resposta que deveria ser dada
durante, não depois. Tornou-se uma relação resolvida publicamente, sem
definição interna pelo casal. Carrega o fantasma de que Todos sabem,
menos eu.

Será que ele sentiu tudo isso que você sentiu Ou está ainda pensando por
ele, para ele Quando diz Embora, às vezes, eu suspeito que chegar mais
perto, e o mais simples toque, o desestabiliza tanto quanto a mim...

É uma suspeita, não uma constatação. As suspeitas não cresceram em
verdades, carecendo do mínimo elo Não seria mais fácil encará-lo e
arrematar o que você deseja comigo Voar mas de olhos abertos, senão o
risco de cair aumenta. Voar sem perder os referenciais do chão, da casa,
do caminho.

No momento em que confessa se é um caso passageiro porque trazer tantas
palavras, tantos gestos, belíssimos para aqueles instantes Respondo para
se convencer de que não é um caso passageiro. O amor é puro
convencimento. Reprisa seu início com ele não guardava o nome, não
descobria seus rastros em sua vida, até que uma sucessão de aproximações
e conversas a convenceu que o amava. Você se convenceu da importância do
encontro, talvez ele não.

Por que ele permanece ao seu lado, desprovido de culpa Entendeu que foi
um caso. Na concepção dele, ficaram somente juntos. Não toca no assunto
para não perdê-la. Aproveita sua dificuldade de iniciar a conversa para
não ter que decidir ou opinar. Ele abusa de sua tolerância. Tem sua vida
sob controle, sua amizade e pode seguir livre e independente. Ou acha
que ele não percebe que está apaixonada Claro que sim.

Não diria que ele a usa, ele a domina, que é diverso. Nota que você
perdeu o poder de revide e vive tentando justificar qualquer atitude
dele. Ele não precisa se justificar porque o perdoa antes mesmo de
qualquer ação. Na carta, disse que ele era sensível e delicado e que um
relacionamento abrupto anterior o machucou. Sua mania de compreendê-lo
termina por desculpá-lo previamente. Entender não pressupõe aceitar.

Duvido que um amor possa se contentar com menos depois de conhecer o
máximo. Isso é exílio.

Quer reconquistá-lo Afasta-se sem motivo, como ele mesmo fez. Sem dizer
alguma coisa. Sem explicar. Deixe ele conhecer o gosto do próprio veneno.

Quando um homem entende demais, seduz. Quando um homem não entende o que
está acontecendo, ele se apaixona.

Beijos

Fabro

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