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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O AMOR É SÓ ESPERANÇA

Fabrício Carpinejar

Numa palestra, uma adolescente me questiona como o amor vem.
São aquelas perguntas que precisam de noventa minutos de retrospectiva e
uma sala de cinema vazia.
Respondi por evasivas. Ela não insistiu por educação.

Na manhã seguinte, inclinei-me na varanda para boiar o rosto no ar. O
vento foi barbeando o pescoço. Levantei obediente o queixo para cima.
O vento tem uma mão mais segura do que a minha.

- Do nada. O amor vem do nada.

Na escola, não era capaz de dar um beijo sem pedir licença enquanto meus
amigos beijavam primeiro para conversar depois. Terminei mais solteiro
do que o professor de Religião. Jurava que a palavra viria me dizer o
que tinha que fazer. Fiquei com a palavra, os outros ficaram com os lábios.

Na festa de fim do segundo ano do 2º Grau, Silvia passou todo o tempo
comigo de mãos dadas. Faria um desenho amarelo, com telhados e árvores,
jardim nas calhas, se pudesse reproduzir meu orgulho ao circular com
ela. Concluí que estava namorando. Idiota, fui contar a notícia a um
colega, bem no momento em que ela beijava a boca de meu melhor amigo.

Laura, Eugênia, Rita, nenhuma das minhas amigas soube que eu as amava.
Um pouco por incompetência, outro tanto porque o amor dificilmente se
confessa.

Eu já me arrumei para um encontro que só eu havia marcado, já tomei
banho por uma mulher que nem me conhecia, já mudei meus horários para
puxar conversa, menti coincidências para criar empatia. Já fiei anos por
uma declaração, meses por uma notícia, dias por um cumprimento.

Nunca dependi de grande coisa para amar. Amava por antecipação. Amava
por esmolas.

Eu me apaixono por nada, por bobagem. Posso dedicar minha insônia a uma
pálpebra feminina. Confundo a irritação dos olhos como uma mensagem. E
tentarei explicar os gestos subseqüentes dela como uma articulação
premeditada para me conquistar.

Quando o abraço de uma mulher desliza para o quadril, pressinto que ela
está me deixando existir. Talvez seja casualidade, mas o amor é uma
casualidade. Entendo como quero. Quando o aperto da face escorregou ao
pescoço, não tomarei como falta de jeito, avalio que tenho chance.
Quando uma amiga telefona fora de horário, desconfio de um interesse maior.

O amor não desperdiça nenhum indício. Nenhum início.

Qualquer erro de entendimento é a possibilidade do amor. O amor é o erro
de entendimento. Flerto com quem não foi avisada de que está flertando
comigo.

O amor é só esperança. A obsessão da esperança. Imagino ter dito, nunca
deixo claro para continuar amando. A ausência de confirmação não me
modifica. Prefiro não descobrir se o desejo é mútuo para prosseguir
sonhando. Ao descobrir que não sou correspondido, é tarde para desistir.

Não falo porque vivo a ansiedade de que alguém escute os meus pensamentos.

Recorto frases, isolo sons, guardo expectativas.

Deus não joga os rascunhos fora. Por isso, temos o amor.

O amor vem por nada. Do nada. De nada. QRCode

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